domingo, 30 de janeiro de 2011

"A vida é uma aventura"




Maurício Santos sempre se considerou como um 'aventureiro amador'. Nos seus 32 anos de vida experimentou vários desportos e actividades consideradas por muitos como mais ou menos radicais. Praticou bodyboard, surf e windsurf, experimentou a escalada, o canyoning e o snowboard, e andou pelos ares num curso de pára-quedismo. Mas mesmo assim, continua a dizer que a sua principal aventura foi a subida do Kilimanjaro, o mais alto pico do continente africano.
Foi tudo preparado num par de meses. A ideia surgiu como uma forma de aliar a aventura à divulgação da doença rara que afecta a irmã (neurofibromatose) e rapidamente se concretizou. Às suas expensas, preparou tudo desde a Madeira. A expedição foi combinada com uma empresa local da Tanzânia experiente também em termos das 'descobertas' do Kilimanjaro, e na mala arrumou cedo uma bandeira com o símbolo da Associação Portuguesa de Neurofibromatose, com que mais tarde se faria fotografar a mais de cinco mil metros de altitude.
A 11 de Janeiro de 2008 chegou à Tanzânia e os percalços rapidamente se fizeram sentir. Um dia e meio depois da chegada a África foi acometido de uma intoxicação alimentar que o deixou enfraquecido. Mas não baixou os braços e, no dia 15, lá iniciou a subida dos longos e difíceis 5.895 metros de altitude do Kilimanjaro.
Acompanhado por um guia local e uma pequena equipa de carregadores, Maurício começou a subida. O primeiro dia foi repleto de energia e sorrisos, mas o aumento da altitude e o pouco tempo de aclimatização fizeram com que logo no segundo dia de escalada as dificuldades começassem.
Uma dor de cabeça intensa foi a companheira fiel de viagem. Depois ainda vieram o vento forte e gelado, as temperaturas negativas, as dores no corpo, as alucinações, a fraqueza e, até, a descoordenação de movimentos.
Para manter a consciência e o ânimo, Maurício agarrou-se aos objectivos primeiros da viagem e a uma pequena placa de madeira com uma inscrição inspiradora da irmã. No quinto dia, atingiu o cume e cumpriu a sua missão.
Regressado ao acampamento base, com a sensação de missão cumprida, e depois de recuperar forças, ainda teve tempo para fazer um safari antes de regressar a Portugal e contar a sua aventura à imprensa e às televisões.
Três anos passados, as memórias dessa aventura são muitas e marcantes. Mas é a distância que o faz admitir que aquilo que concretizou em 2008 é um "tipo de aventura requer muita preparação e alguma disponibilidade, e conforto financeiro, algo que neste país, é cada vez mais escasso". Porém, acrescenta, "não é impossível, pois sei que existem pessoas que alinham neste tipo de aventuras como foi o caso daqueles que conheci no programa da TVI. Ou seja cada um de nós pode e deve experimentar pelo menos uma vez na vida uma aventura desse género, e não pode pensar que é impossível, deve antes de mais acreditar!".
E a subida do Kilimanjaro foi a primeira aventura que fez do género. "Já tinha feito outras aventuras mas não com a intenção de apoiar uma instituição de solidariedade como a APNF (Associação Portuguesa de Neurofibromatose)" e muito menos tão 'loucas' como a que o levou à Tanzânia. "Já tive aventuras de sobrevivência que ficam no mesmo patamar. Por exemplo, já me vi perdido num caminho no Parque Natural da Serra Nevada com apenas a luz do telemóvel para me guiar, e tive que descer a serra sem equipamento de escalada, agarrado as rochas. Já me meti no mar num dia de "levadia" no Paul do Mar, procurando surfar a maior onda, sorte tive eu nesse dia, pois apenas surfei uma onda (pois tive medo e dificuldades era tal o tamanho das ondas), logo a seguir fui para casa pois não queria arriscar, estava sozinho e nunca se sabe!".
E as experiências não ficam por aqui, relata à MAIS. "Uma vez num dos meus primeiros saltos de pára-quedismo em formação e com um senhor que já não saltava a algum tempo, decidimos entre nós que, antes de atingirmos os 4000 pés, iríamos tentar o maior número de 360º em formação, e que ele seria o primeiro a separar, logo significaria que eu teria que dar uma margem de folga antes de abrir o meu pára-quedas. Mas sei que assim que abri, estava a apenas aproximadamente 3 segundos de me estatelar no chão e assim que abri nem tive tempo de fazer os procedimentos normais e logo aterrei no chão. O choque foi tal que nesse dia só consegui dormir lá por volta das 4 horas da manhã!".
E muitas mais páginas poderiam ser escritas sobre as suas experiências, algumas mais 'loucas' do que outras, mas sempre com resultados positivos, em termos do crescimento pessoal e mental e da forma como encara a vida.
É por isso que incentiva sempre os outros a se aventurarem sempre que possível. "Incentivo pois a vida é por si só uma aventura, a cada canto em cada esquina podemos nos deparar com uma aventura. Julgo que nos dias de hoje as pessoas ficam muito tempo em casa, imaginando as aventuras que poderiam estar a fazer ou admirando as aventuras dos outros. Há algum tempo, o homem constantemente lutava pela sua sobrevivência, e não falo apenas em termos materiais, falo mesmo no aspecto guerreiro, a ausência de tal, nos dias de hoje, criam lacunas que hoje estão a ser substituídas cada vez mais pelo desporto radical e de aventura. O que quero dizer não é para todos saírem dos seus sofás e subirem uma montanha, mas encararem o facto de que apenas temos uma vida e ela tem que ser vivida, e não conheço melhor maneira de viver do que através da aventura. Costumo dizer que a vida é uma Aventura, é preciso vivê-la!".
Hoje, três anos passados da subida ao Kilimanjaro, Maurício Santos, casado e com um filho de um ano, continua a dizer que existem mais aventuras a concretizar. "Gostaria de poder concretizar o objectivo de subir as 7 montanhas mais altas de cada continente. Embora eu saiba que é muito difícil, seria óptimo pois poderia ajudar muitas instituições de solidariedade e ao mesmo tempo aproveitava para conhecer os locais que iria visitar", confessa. "Agora que sou pai e marido, sei que tenho outras responsabilidades mais urgentes, e não esqueço que ser pai é só por si uma linda aventura que não seria possível sem o apoio e o amor da minha querida mulher". Talvez daqui a uns anos possa realizar aventuras em família ou "quem sabe, um dia o meu filho queira também seguir este espírito de aventura".
Fonte:
Revista Mais - DN Madeira
Texto: Ana Luisa Correia
Fotos: Maurício Santos

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