quarta-feira, 28 de março de 2012

As potencialidades da Calheta - Por Emanuel Janes

Num destes últimos dias fui ao Paul do Mar, fazer uma palestra sobre a indústria de conservas de peixe na Madeira. Local muito aprazível e solarengo que frequento com muita regularidade, porque possuo uma habitação na Fajã da Ovelha. Foquei com particular destaque a profícua laboração da fábrica de conservas daquela localidade, que foi deveras importante para a economia do Paul do Mar e da Madeira, durante quase vinte anos. Ao conversar com alguns habitantes da freguesia, que assistiram à palestra, soube que no Paul do Mar, até aos anos sessenta do século XX, altura em que os homens começaram a emigrar em grande número para fugirem à Guerra Colonial, existiram várias fábricas que davam emprego e dinamizavam a economia, fábricas de massa, telha, blocos, padarias, além da indústria de pesca que dava para fornecer todo o concelho e arredores. Na Fajã da Ovelha, como nas outras freguesias do concelho da Calheta, existiram nessa época fábricas de manteiga e outras, dada a importância que tinha então a criação de gado. Hoje, infelizmente, nada resta dessas actividades económicas. Nesse tempo, a vida não era fácil. A distância para a sede de concelho era grande, para a cidade era enorme. O transporte fazia-se em lanchas de cabotagem que tinham um horário estabelecido e ligavam os vários concelhos à cidade do Funchal, uma ou duas vezes por dia. As pessoas tinham que viajar cedo, quando o objectivo era chegar à cidade e se havia muitas coisas a resolver aqui tinham que pernoitar numa pensão, os mais abastados ou ao relento os mais pobres. Depois, vieram os autocarros que seguiam o mesmo ritmo e o mesmo compasso de desconforto das lanchas marítimas de carreira. Hoje, as distâncias na Madeira existem apenas nas nossas cabeças, ela é apenas psicológica! Da Calheta ao Funchal distam apenas 20 minutos de viagem. As infraestruturas de viação estão construídas, encurtando as distâncias e possibilitando o desenvolvimento. A Calheta é dos concelhos da Madeira que mais foram beneficiados em termos de infraestruturas por parte do Governo Regional. Aqui destaco o papel preponderante que teve o vice-presidente do Governo, Dr. Cunha e Silva, e a extinta Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste, além da actual vereação da Câmara Municipal. O concelho possui infraestruturas modelares em todas as áreas económicas, culturais e sociais. No campo da cultura, o Centro das Artes / Casa Das Mudas e outros centros culturais, cívicos e recreativos nas outras freguesias, fazem com que a Calheta seja o segundo concelho da Madeira mais bem apetrechado em termos culturais. No sector da Educação, o desenvolvimento foi grande ̶ construíram-se escolas de raiz, modernizaram-se e repararam-se outras, estendendo o 12º anos às escolas do concelho, fazendo com que todos os jovens pudessem usufruir da educação gratuita, mesmo os menos favorecidos, e pudessem continuar os seus estudos. O Turismo é uma aposta ganha mas ainda em desenvolvimento. O número de camas disponíveis no concelho não para de crescer e a aposta na freguesia da Ponta do Pargo, com a construção de um novo hotel, é sinónimo de fixação dos jovens à sua terra. A reparação de caminhos rurais e agrícolas, levadas, jardins públicos, parques de lazer, ao longo das estradas, é sinónimo desse empenhamento. A valorização dos desportos ligados ao mar e à natureza, que o concelho proporciona, (as provas de BTT, a vela, o surf, o bodybord, a pesca submarina, a observação de golfinhos, o porto de recreio, a marina, a promenade e a magnífica praia artificial de areia amarela, são uma aposta ganha. Talvez falte a criação de um centro de mergulho. A construção do campo de golfe na Ponta do Pargo é uma infraestrutura que os locais aspiram para a concretização de diversos projectos. Esta infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento turístico de todo o concelho. O golfe é hoje um desporto que envolve milhões e pode contribuir decididamente para reduzir o desemprego no concelho e fixar aí os mais jovens, evitando a emigração, porque em seu redor irão desenvolver-se muitas infraestruturas de apoio. O clima do concelho da Calheta pode ser um aliado importante do desenvolvimento turístico que se pretende para a região sudoeste da Ilha, pode ser o complemento que falta às populações do concelho, podendo contribuir também para esbater assimetrias. Muitas pessoas abandonaram a agricultura para se dedicarem à construção civil, mais atraente e melhor remunerada, mas hoje confrontam-se com a falta de trabalho nesta área. Apesar desta debandada geral da agricultura, alguns porfiaram e alcançaram êxito. Aqui foi talvez onde o salto qualitativo foi maior. Com os apoios do Governo e da União Europeia, os agricultores calhetenses foram rentabilizando os seus terrenos e praticando uma agricultura moderna, com novos processos e novos meios, construindo estufas e pomares, e introduzindo novas culturas. A acção do Padre Rui Sousa e da paróquia dos Prazeres, transformando uma terra inóspita num oásis de realizações e pólo aglutinador da freguesia, merece um destaque especial. Ele tem sido o grande empreendedor desta freguesia. Dele têm partido as grandes iniciativas que ali se realizam. Primeiro foi a Quinta Pedagógica, que é visitada por gente de toda a Ilha e turistas continentais e estrangeiros. A casa de chá, sempre bastante concorrida em especial nos fins-de-semana, a casa da cidra do outro lado da rua e por último a galeria de arte, que é bastante convidativa e onde se expõem trabalhos de vários artistas plásticos locais, nacionais e estrangeiros são exemplos claros de novas formas de empreendedorismo. Apesar da crise, a que nos levaram os governos medíocres do território continental, metendo-nos na mesma teia onde irresponsavelmente colocaram todos os portugueses, o concelho da Calheta tem condições para encontrar as soluções que se impõem ao seu desenvolvimento material, cultural e espiritual e bem mesmo se pode inspirar no exemplo do Padre Rui Sousa. Sabemos que os desafios que se nos colocam não são fáceis, sabemos também que é preciso trabalhar afincadamente para ultrapassar as dificuldades, mas a vontade e tenacidade deste bom povo que encontrou forma de construir caminhos e levadas para fertilizar as suas terras, nos rochedos alcandorados da Ilha, há-de também encontrar o seu caminho e rebuscando no seu passado glorioso de realizações buscar inspiração para a cura dos seus males.

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