domingo, 6 de setembro de 2009

Terra de 'capitães do mar' aguarda centro cívico


A população do Paul do Mar decresce desde há sete décadas. Os jovens só olham à emigração para a pesca. Mas o Centro Cívico é, hoje, o maior desejo.
António da Luz é, hoje, aos 75 anos um dedicado agricultor de bananeiras que não gosta de lembrar o "passado triste", mas fala do presente com muito à vontade. Orgulhoso do seu passado de emigrante, não tem problemas em afirmar que o Paul do Mar está hoje como está devido aos que, como ele, procuraram vida melhor no estrangeiro. "Não foi Portugal, venha o Alberto João dizer o que quiser, foi o pauleiro emigrado, senão não havia o que há agora".

Este antigo pescador do atum nas águas do Atlântico, esteve muitos anos em vários países das América (Venezuela, Panamá, Brasil, Estados Unidos), mas cansou-se da vida de emigrante e decidiu regressar para encontrar o 'seu' Paul do Mar já desenvolvido.
A obra que mais o entusiasmou foi a muralha de protecção da frente-mar, lembrando-se dos tempos em que via o mar revoltoso invadir ruas e casas da vila piscatória. "Está uma boa obra, mas podiam ter feito melhor", sentencia. "Está muito pobrezinho, faltam bancos, arranjos de flores e até podia ser mais largo para dar espaço a umas esplanadas. Pelo que se vê na Madeira, o Paul era para estar melhor um bocadinho", analisa, mesmo consciente que neste dia o mar até está apetecível, mas há dias em que "leva tudo à frente".
Outra obra que aguarda com ansiedade é do futuro Centro Cívico, que irá servir como sede da Casa do Povo, da banda musical, da Junta de Freguesia, e ocupar jovens e idosos, como ele. Aliás, António da Luz afina pela mesma ideia de outros pauleiros. Quando arrancar, a obra deverá colocar uma pedra sobre a 'mancha' do que ainda é aquele edifício em esqueleto, parado há cerca de quatro anos por causa de um embargo judicial.

125 euros de pensão de viuvez
Com vista para o velho campo, agora a ser melhorado com relvado sintético, Maria José está descontente com o Instituto da Habitação há alguns anos. Depois de perder quase tudo o que tinha numa enxurrada em 1999 no Estado de Vargas, Venezuela, aconteceu-lhe o mesmo no 'seu' Paul do Mar. "
A casa ficou sem condições para morar e tive de ficar algum tempo numa vizinha e esperei quatro anos pelo Instituto de Habitação", conta. "Até hoje, nada me deram e continuo a viver na parte de baixo da casa, pois em cima, o tecto desabou e entra água", diz com desgosto no olhar e amargura na voz.
Aos 73 anos, espera com alguma ansiedade que seja concluída de uma vez por todas a obra que, hoje, dizem, será uma grande ajuda para as gentes do Paul. "Dou graças a Deus que finalmente decidiram fazer alguma coisa. Sempre que passei aqui nestes anos, só faltava chorar por ver tanto dinheiro gasto numa obra e saber que tem gente que mal consegue sobreviver", lamenta. "Quem parou a obra tem falta de consciência. Deviam ter mais esquisitice com o Funchal, onde há muita obra mal feita, prédios com 10 pisos e cara com cara, e vão embirrar com esta?", questiona, enquanto aponta para o prédio de 3 pisos, que até esta a pouca distância de outra, terminada e já com moradores, praticamente da mesma dimensão.
"Fiquei contente coma decisão da Câmara em avançar com o Centro Cívico, mas quero que ponham alguém ali para receber os pagamentos da água e da luz", faz nova proposta. "Até para comprar uma agulha temos que ir à Calheta ou ao Arco (da Calheta), aqui não tem nada. E para a gente idosa como eu, viúva e com uma pensão de 125 euros, não dá jeito nenhum".
Retoma a conversa do Centro Cívico para, como uma contabilista , fazer as contas: "Disseram-me que só ali na Casa do Povo, o Governo está a pagar 600 euros mensais do espaço. Num ano, são mais de sete mil euros que está saindo do bolso dos contribuintes. Sem contar com a Junta, que está ali para a zona do cais"... É a última queixa.

A emigração vale a pena
Aos 20 anos, Carlos Ferreira não tem estas preocupações, mas já tem alguma experiência de emigração. Saiu do Paul do Mar para a Venezuela aos 17 anos e, desde então, faz da pesca o seu sustento no Panamá e na Costa Rica. Regressa praticamente de oito em oito meses para descansar dois e, depois, regressar à faina em alto-mar.
"Esta vida vale a pena, ganha-se muito dinheiro, mesmo como pescador", conta o jovem, que já vai na sua quarta semana de férias em casa. "Quase todos os jovens daqui estão na pesca. Um tripulante chega a ganhar cinco a 7 mil dólares numa só viagem (até dois meses e meio sem ver terra). Mas os capitães dos barcos ganham mais, entre 50 a 100 mil dólares. O nosso problema neste momento é o câmbio do dólar para o euro, porque é mais fraco".
Sobre o dia-a-dia da terra, Carlos Ferreira lembra a tranquilidade de quem lá vive. E a 'prova' é o número de novos moradores, "gente do Funchal que compra casa para passar as suas férias", enquanto a maioria dos pauleiros faz a vida na pesca. "Há quatro anos que estou nesta vida e já percorri vários países, apesar de ser muito novo", acrescenta.
No seu aspecto jovial e de vestimenta descontraída, típica de quem está de férias, Carlos diz que muitos jovens se calhar nem precisavam de emigrar, "se os clubes de futebol da Madeira viessem cá ver os nossos talentos", propõe. "Temos dois jovens que passaram despercebidos ao Nacional e ao Marítimo e agora estão no Sporting".
Questionado se falta alguma coisa no Paul do Mar, o jovem emigrante atira logo: "Não falta nada, faltam é mais mulheres. Aqui tem mulheres lindas". O elogio não se fica por aqui. Sendo morador no bairro social, cujos 56 apartamentos foram recuperados há cerca de nove anos, Carlos Ferreira diz que a Madeira "tem um grande presidente que nos deu estas casas", diz satisfeito. "Antes eram velhas e feias, agora vive-se bem, são autênticas casas de praia numa terra tranquila".
Com uma população jovem, mas muitos mais emigrantes por todo o mundo, o povo do Paul do Mar parece envelhecido. É só mesmo aparentemente, dado que, com uma diferença de nove anos, há tantos eleitores (2008) como população (2001), uns redondos 885. Prova de que há cada vez mais novos moradores, que já fazem desta terra de 'capitães do mar' a sua primeira casa. Os verdadeiros pauleiros continuam a calcorrear os mares.

Projecto: Lota no Paul do Mar adiada
Ainda não será este Verão que arrancam as obras de construção da futura lota no porto do Paul do Mar. No local, tudo continua igual como dantes. A única alteração no panorama habitual desta infra-estrutura marítima é o reposicionamento dos contentores que continuam a servir de lota, agora sobre o cais de acostagem.
Contrariamente ao que foi admitido em Maio último pelo presidente da Junta de Freguesia local, e posteriormente confirmado junto do Director Regional de Pescas, o início das obras da nova lota ainda este Verão já não será uma realidade, uma vez que o processo de construção ainda não passou do papel, e tal não deverá ocorrer ainda nesta época estival. Com o director de Pescas em gozo de férias, fonte deste departamento apenas informou que "o processo de concurso ainda está a decorrer".
Já o secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais, que tutela a área das pescas, confirma a informação de que o processo está em andamento, minimizando por isso o facto de a obra ainda não estar no terreno, uma vez que perspectiva que na próxima safra do atum, que é a principal actividade dos pescadores locais, o novo equipamento de apoio possa já vir a ser uma realidade.
Apesar de sustentar que "a obra invisível [processo] já decorre", o governante admitiu algum atraso face ao inicialmente previsto. Ficou a dever-se à indefinição suscitada sobre "onde fazer e como fazer", justificou Manuel António Correia. Reiterou no entanto a promessa que a lota neste porto de acostagem mais a Oeste da Ilha "é para se fazer" e garantiu que a curto prazo "ficará pronto".
Enquanto a infra-estrutura ambicionada pelos pescadores pauleiros não se concretiza, relembra que no local existem contentores - um faz de escritório e outro proporciona sistema de frio - que asseguram "condições transitórias" no descarregamento do pescado, razão pela qual entende não haver razões para preocupação dos pescadores.
Quem já prefere não falar do assunto é o presidente da Junta. Cauteloso, José Gonçalves agora espera novos desenvolvimentos. Antes do Verão o autarca pauleiro confirmava ao DIÁRIO que a obra finalmente iria ser concretizada. "Já está previsto começar em Julho", regozijou-se então. Na altura até indicou o local e as medidas - à entrada do varadouro, encostado ao cais, com dez metros de largura por 15 de comprimento. "Da minha parte está tudo pronto. Agora compete a eles avançar", dizia. Resta aguardar, enquanto na vitrina exterior da Junta de Freguesia, continua patente ao público o primeiro esboço do projecto da lota do Paul do Mar, que já muito deu que falar.
Fonte: Diário/
Francisco José Cardoso e O. D.

2 comentários:

Anónimo disse...

O campo de futebol é o ENGODO o centro civico so avança
SE O PSD GANHAR AS ELEICOES
e numas proximas eleicoes poderemos pensar numa LOTA COM MAQUINA DE FAZER GELO E BOMBA DE COMBUSTIVEL...

NAO E PARA O NOSSO EXELENTISSIMO PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA QUE PESCA A TEMPO INTEIRO E ACUMULA O CARGO DE PRESIDENTE DE JUNTA A PART-TIME E ELE MELHOR QUE NINGUEM SABE DAS NECESSIDAES DOS PESCADORES DO PAUL DO MAR...

Anónimo disse...

esse presidente da junta de freguesia n tem voz activa nenhuma. qd ha inauguraçoes la aparece ele engravatado mas de resto n faz mais nd a n ser pescar em vez de estar em serviço á comunidade.