quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Família grita por justiça


Consternação e 'sede' de vingança. Estes são os sentimentos que reinavam no Paul do Mar, ontem, sobretudo entre os familiares, amigos e conhecidos da mulher natural da freguesia que, no dia anterior, foi assassinada pelo próprio marido, na casa onde residiam, na freguesia dos Canhas, na Ponta do Sol.
Entre a impotência de já nada poderem fazer para alterar o infeliz destino desta ainda jovem mãe de 33 anos, e a revolta de não conseguirem eles próprios 'fazerem de sua justiça' perante o autor confesso deste homicídio, os 'pauleiros' ficaram também muito abalados com os contornos deste crime hediondo.
Isto porque tudo indicia que os dois filhos menores assistiram a tão bárbaro acto. A família da vítima acredita que a criança mais nova estaria mesmo ao colo da mãe, quando esta foi violentada pelo marido e pai do bebé. Isto porque o pequenino apresenta um hematoma na parte superior da face e escoriações nas costas, que se presume, tenham sido provocadas durante o violento episódio que consumou o crime.

Para já, as três crianças estão no Paul do Mar à guarda da família materna, que recusa sequer outra solução que não seja a tutela dos mesmos. Os dois mais velhos (de seis e três anos) estão agora com as tias, na casa da mãe, enquanto que a criança com pouco mais de um ano de idade, por ter particular apego ao avô, vai ficar em casa deste, na companhia de uma tia-avó que partilha a mesma habitação.
De resto, toda a restante família promete entreajuda para ajudar a cuidar das crianças, declinando sequer a hipótese das mesmas poderem ser deslocadas para a Madalena do Mar, para junto de familiares paternos.

"Ele é um monstro"
"Ele é um monstro, não é um ser humano. É de um selvagem o que fez, ainda por cima para deixar três filhos menores no Mundo sem mãe", lamentou o pai da vítima. Ainda muito abalado com o sucedido, Manuel Silva, de 58 anos, confessa ser "muito difícil de acreditar" que um acto tão tresloucado tenha roubado a vida à filha, "uma mulher jovem e cheia de saúde".
Pescador de profissão, Manuel ausentou-se de casa na madrugada de domingo para segunda-feira, para, como habitualmente, ir para a faina ao largo da costa do Paul. A filha ficara a descansar até de manhã, antes de ausentar-se para ir trabalhar para os Canhas, onde desempenhava funções de auxiliar de educação num infantário local. Aquela noite fora a última que vira Sílvia com vida. Regressou do mar ao início da tarde, pouco antes de receber a notícia que lhe caiu que nem uma bomba.
Destroçado com a verdade dura e crua que lhe bateu à porta, Manuel até ontem não mais 'pregou olho'. Nem sequer à noite conseguiu dormir, tentando recusar acreditar em tamanha malvadez.
Confirma que, no sábado à noite, a filha e os seus três filhos lhe apareceram em casa, porque entretanto haviam abandonado a residência onde viviam nos Canhas, na sequência de uma forte discussão. Conta ainda que no dia seguinte (domingo), o genro, com o qual o sogro garante nunca ter falado e poucas vezes o ter visto, esteve no Paul do Mar, mas de forma fugaz.
Agora mais do que nunca, há um profundo sentimento de ódio para com o autor confesso do crime. "É melhor nem o ver, porque se o vejo nem sei daquilo que serei capaz", diz revoltado.

Revolta e muita dor
Quem também não calou a sua revolta foi Sofia Rodrigues, tia da vítima. "Ele não devia ir para a prisão. Ele devia era ser morto de forma igual". Esta é de resto a 'sentença' desejada no seio da família da malograda Sílvia, que acredita que tudo fora previamente "planeado".
Espera, agora que o criminoso tenha aquilo que merece, manifestando sem rodeios que o mesmo possa ter um fim tão ou mais doloroso do que aquele que infligiu à sua própria esposa. Entre a dor e o ódio, esta familiar garante que "se ele se enforcasse, eu ponha o rádio à força toda".
O crime passional dominou as conversas, não só, mas sobretudo na pitoresca freguesia costeira do Concelho da Calheta. Aquando da nossa reportagem, ontem à porta da casa do pai, aquela onde Sílvia Silva passou as duas últimas noites, antes do trágico desfecho, em poucos minutos diversos familiares, amigos e conhecidos juntaram-se numa roda viva para expressarem a sua revolta pelo bárbaro crime que deixa três crianças órfãs de mãe e com o pai na cadeia.
Uma irmã da vítima confirmou que "ultimamente já tinha ocorrido algumas desavenças" entre o casal, mas que esta fora "a primeira vez que ela saiu de casa". O pior desta contenda familiar estava contudo para vir, e terá sido consumado ao início da tarde de segunda-feira. "Apesar de tantas ameaças, nunca pensamos que chegaria a este ponto", admitiu a irmã mais nova.
Outra familiar mais idosa também opinou que a verdadeira justiça era um 'ajuste de contas' na mesma moeda, acrescentando ainda frases muito acaloradas.
Enquanto isso, alguém no grupo alertava igualmente para eventuais consequências futuras. "Ele devia era ser morto. Não é só ser preso, porque assim daqui a alguns anos ele sai e ainda ri-se da gente. Ou pior, ainda tenta fazer a vida negra às cunhadas ou fazer o mesmo que fez à mulher, aos filhos", advertiu.

"Se era aqui (Paul), ele não dava"
Conhecidos pelo seu forte sentimento bairrista, os 'pauleiros' não fazem por menos, sobretudo quando em causa estão aqueles que são naturais da freguesia. "Se era aqui ele não dava. Até podia dar a primeira, mas a segunda já não dava", garantiu um residente local, reunindo a pronta concordância de todos os presentes.
O facto do autor confesso deste crime já ter alegadamente estado envolvido num acidente de viação que acabou por vitimar uma pessoa, faz agora reforçar os pensamentos dos pauleiros. "Ele já tinha estado envolvido num acidente que matou um rapaz de bicicleta", lembrou um dos presentes, que reclama agora por justiça.
"Só haverá verdadeira justiça se fizerem com ele o mesmo que ele fez a ela. Não é na prisão, porque a vida dela já ninguém a dá. Por isso deve pagar pelo que fez, e não daqui a uns anos andar por aí como se nada tivesse acontecido", concretizou.
Fonte: Diário/ Orlando Drumond

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