segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Nove mil passaram em 31 anos pela Unidade de Alcoologia da Casa São João de Deus


Desde que a Unidade de Alcoologia da Casa de Saúde de são João de Deus abriu, há 31 anos (a 5 de Novembro de 1979), por ali já passaram cerca de 9.000 pessoas para fazer tratamento contra o alcoolismo.
Segundo adiantou ao JM o coordenador da Unidade, também chamada Centro de Recuperação de Alcoólicos São Ricardo Pampuri, tem havido um aumento da procura pelo tratamento, mas, apesar disso, não se pode dizer que o consumo de álcool tenha aumentado na Região. A maior procura, explica o enfermeiro Sérgio Lima, reside no facto de haver uma maior sensibilidade para esta questão, em parte graças à maior divulgação do tratamento por parte das equipas que andam no terreno.
Em 31 anos registaram-se cerca de 9.000 internamentos, mas, entre 2005 e 2010, o número foi de 1.684. Destes, 1.458 foram do sexo masculino e os restantes 226 do sexo feminino.
De acordo com Sérgio Lima, actualmente estão internadas a fazer tratamento 20 pessoas, sendo que, só neste ano de 2011 já ali estiveram aproximadamente 60 doentes.
A grande maioria das pessoas que procuram o tratamento é do sexo masculino, ainda que se note um ligeiro aumento por parte das mulheres (estas correspondem a cerca de 12 por cento).
Tal como explica o nosso interlocutor, «mais depressa um homem recorre ao tratamento do que uma mulher», muitas vezes por esta ter vergonha de admitir que tem um problema, ou devido à responsabilidade familiar. É que, sublinha o responsável, a abstracção do lar para vir para um internamento «não é fácil».
No que concerne à média de idades das pessoas que procuram - e fazem - o tratamento, situa-se mais na faixa etária entre os 30 e os 50 anos, com maior incidência entre os 40 e os 50 anos. Uma média que, adianta o coordenador da Unidade, tem sido constante.
De entre estes números, é de salientar que cerca de 85 por cento das pessoas «cumprem o internamento até ao fim sem problemas», o que corresponde a uma taxa «muito boa». Por outro lado, Sérgio Lima adianta que cerca de 60 por cento dos internados estão-no pela primeira vez, o que permite concluir que cerca de 40 por cento recaem. O risco de recaída acontece maioritariamente nos primeiros seis meses a um ano, pelo que depois desse período a taxa diminui drasticamente. Por vezes, depois de experimentarem a recaída é que as pessoas se consciencializam de facto do problema.

Motivar e ajudar a traçar objectivos
Habitualmente, os doentes chegam à Unidade de Alcoologia da Casa de Saúde de São João de Deus encaminhados pelas unidades concelhias comunitárias de saúde mental.
O indivíduo com dependência alcoólica tem diversos problemas associados, quer a nível psíquico, com défice cognitivo e de memória, quer a nível físico.
Uma vez ali chegado, começa um programa de 28 dias, exactamente com vista a restabelecer as capacidades que perdeu ao longo do tempo de consumo. O primeiro passo, explica Sérgio Lima, é fazer com que este perceba que tem um problema, dado, durante muito tempo, andar num processo de negação e, inclusivamente, focalizar o problema nos outros e não em si.
Depois dessa tomada de consciência, com a ajuda da equipa multidisciplinar da Unidade começa todo um trabalho de aumento da motivação, de melhoria da sua auto-estima, de treino de memória e das competências sociais e individuais que entretanto foi perdendo, tudo com vista a que consiga traçar objectivos e metas para o futuro.
A par da psicoeducação, das sessões de acompanhamento individuais e das dinâmicas de grupo, é igualmente feito um tratamento farmacológico com anti-depressivos, ansiolíticos, bem como outro tipo de medicação para fazer face aos problemas físicos, onde se destaca a hidratação e o restabelecimento vitamínico. De referir também o trabalho que é feito junto da família, voltado para o processo de reintegração do indivíduo.
Uma vez terminado o internamento, os doentes voltam a ser encaminhados para as unidades concelhias comunitárias de saúde mental, onde são acompanhados. De salientar, contudo, que muitos já recuperados continuam a participar durante vários anos, nas reuniões mensais que decorrem na Unidade de Alcoologia.

281 consultas em 2010
O Serviço de Gastrenterologia reagiu aos números «avassaladores» dos problemas ligados ao consumo de álcool, tendo, em 2009, sido aberta a consulta de Doença Hepática Alcoólica. Nesse primeiro ano (2009) realizaram-se 39 consultas (29 homens e 10 mulheres), ao passo que o ano passado o número foi de 281 (246 homens e 35 mulheres).
Ricardo Teixeira refere que os dados permitem concluir que os hábitos alcoólicos «continuam muito mais frequentes nos homens do que nas mulheres», embora proporcionalmente haja a sensação de que os casos estão a subir entre estas.

Fonte:
Jornal da Madeira/Ricardo Caldeira

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